Fraude nas urnas e ‘kit gay’ têm mais impacto que outras notícias falsas
Em 1 mês, os temas mobilizaram mais de um milhão de menções no Twitter e, no Facebook, superaram 2 milhões de interações;No YouTube, foi expressivo o impacto de vídeos sobre fraude nas urnas eletrônicas, com mais de mil vídeos e 37,5 milhões de visualizações
Atualizado em 1 de novembro, 2018 às 7:05 pm
- O debate no Twitter
A FGV DAPP analisou as referências às principais notícias falsas em redes sociais abertas — Twitter, Facebook e Youtube — no último mês para mensurar o alcance que obtiveram em cada plataforma e qual a resposta da rede aos conteúdos — se foram objeto de checagem, se houve compartilhamento dos desmentidos, se as informações não procedentes continuaram com impacto após o surgimento na web.
Entre as notícias falsas, a suposta fraude nas urnas eletrônicas foi a mais citada no Twitter. De 22 de setembro a 21 de outubro, foram 1,1 milhão de tuítes sobre a suposta insegurança dos dispositivos, difundida tanto em postagens que pedem a volta do voto impresso, quanto em relatos de “erros” que teriam sido verificados pelos eleitores no primeiro turno.
O chamado “kit gay” também mobilizou cerca de 1 milhão de referências na rede. Os posts repercutem a informação falsa de que Fernando Haddad, durante sua gestão no Ministério da Educação, teria autorizado a criação do material. Tuítes reprovam o que seria, segundo parte dos usuários, uma estimulação precoce da sexualidade, e à “ideologia de gênero”.
A terceira notícia falsa em menções no Twitter — com volume de referências bem menos expressivo — aborda mentiras sobre um dos livros publicados pelo candidato petista: “Em defesa do socialismo”. Foram 48,7 mil referências. Entre as informações falsas, estão a afirmação de que ela defenderia o incesto e que traria o “decálogo” do comunismo.
Publicações falsas associadas a Jair Bolsonaro tiveram alcance mais tímido. A especulação sobre o candidato ter “simulado” seu atentado para disfarçar uma cirurgia oncológica foi o boato que mais mobilizou no período, com 34,6 mil registros. Já a mudança da padroeira do Brasil, alardeada, falsamente, como proposta sua, foi citada 16,7 mil vezes. Por fim, a notícia de que Bolsonaro seria o político mais honesto do mundo teve 6,5 mil menções.
- Engajamento de notícias
As 50 notícias sobre cada um dos sete temas monitorados alcançaram mais de 6,4 milhões de interações no Facebook e no Twitter no mesmo período de um mês ‒ entre reações, comentários e compartilhamentos. As publicações sobre supostas fraudes em urnas eletrônicas mobilizaram maior engajamento, com 3,34 milhões de interações. Em seguida, vêm as notícias sobre o chamado “kit gay” (2,37 milhões); as informações falsas sobre o livro de Haddad (243,3 mil) e a afirmação de que ele descriminalizaria a pedofilia (208,6 mil).
Notícias falsas associadas a Bolsonaro tiveram menor engajamento: a suposta eleição do candidato como o político mais honesto do mundo teve 135,1 mil interações no Facebook e no Twitter. Já a especulação sobre uma possibilidade de mudança da padroeira do Brasil registrou 72,9 mil interações, enquanto a mentira sobre um tumor que o ex-capitão teria escondido teve 22,5 mil reações, comentários e compartilhamentos.
Entre os links analisados, 17 continham informações falsas, imprecisas ou enganosas, mobilizando 1,07 milhão de interações no Twitter e Facebook. Notícias falsas sobre supostas fraudes nas urnas também tiveram maior engajamento nesse recorte: 996,6 mil interações. Em seguida, aparecem links sobre o “kit gay” (77,7 mil), a padroeira do Brasil (2,2 mil), o livro de Haddad (1,6 mil) e o câncer de Bolsonaro (385).
- Visualizações no Youtube
No YouTube, também vídeos sobre o kit gay e a suspeita de fraude nas urnas foram os de maior compartilhamento e impacto, seja para defender as duas notícias falsas, seja para questioná-las ou refutá-las. Considerando vídeos publicados entre 22 de setembro e 21 de outubro com referências às notícias falsas no título das postagens, foram identificados 1.090 vídeos sobre denúncias de fraude eleitoral, comprometimento de urnas eletrônicas e voto impresso, que geraram 37,5 milhões de visualizações. O tema foi significativamente maior que os demais no Youtube, e a ampla maioria dos vídeos reitera as suspeitas de fraudes.
Sobre o kit gay foram identificados 177 vídeos com referências, que geraram 1,49 milhão de visualizações. Os demais temas tiveram alcance bem menor no Youtube. O suposto câncer de Bolsonaro é citado em cinco vídeos, que geraram 111,6 mil visualizações, enquanto quatro vídeos refutam a notícia de que o candidato do PSL deseja trocar a padroeira do Brasil, substituindo Nossa Senhora Aparecida — com 13,8 mil visualizações. Já sobre a informação de que livro de Haddad fazia apologia ao incesto, foram 26,3 mil visualizações de onze vídeos, com metade negativos ao petista e metade em defesa do candidato. Vídeos que relacionam explicitamente Haddad à pedofilia foram seis, com 5,4 mil visualizações.